Remendando planos
Elias é nosso primeiro filho. Planejado, esperado,
curtido muito, amado desde o ventre por Bernardo e eu. Vivemos a gravidez
plenamente, li muito sobre tudo o que envolvia o momento em que vivíamos, fiz
esporte, conversei com ele, li, cantei; fui mãe desde que soube da sua
existência. E (surpreendentemente?) Bernardo também foi pai desde o início. Foi
uma gravidez intensa, de muita paixão. Rendeu muitos textos no blog e uma
música (ainda não publicada).
Eu concebi o parto ideal depois de muitos vídeos,
leituras, visitas médicas, conversa com parteiras e doulas. Ele consistia em
ficar na tranquilidade do lar e receber Elias onde viria a ser o
seu lar também. Pintei um quadro com pouca luz, muita água, num ritmo jazz e carinho do marido. Sonhei em amamentar na primeira hora, com a certeza de
que meu bebê não passaria por todos os procedimentos rotineiros e nem sempre
necessários. Nos preparamos. Alugamos piscina, compramos bola de Pilates, mangueira,
baldes, panos, muitos panos. Escrevemos um plano de parto detalhado e decidido.
Muita consciência e segurança nas escolhas.
Mas um número errado num exame de glicose veio
perturbar a cena. Não sem frustração e choro, o plano foi redesenhado. No lugar
de dar à luz abrigada pela parede laranja da minha sala de estar, o diagnóstico
de diabetes gestacional me obrigava a fazê-lo entre quatro paredes brancas e
frias de um hospital. Nos resignamos, mas empregamos bastante energia (e
dinheiro) para garantir um parto humanizado, sem intervenções desnecessárias. O
novo plano consistia em ficar em casa acompanhada de uma doula e uma parteira
até dilatar uns 7 a 8 centímetros, para então ir ao hospital, onde um obstetra
(não cesarista) acompanharia o parto. Mas seria Bernardo quem pegaria o bebê
quando ele nascesse. Consegui até que houvesse uma piscina. Piscina era o meu feitiche.
37 semanas… Elias
podia nascer quando quisesse. Mas não quis. 38, 39… O médico disse que por
causa da tal diabetes gestacional (mesmo tendo sido rapida e facilmente
controlada) não poderia deixar passar de 40 semanas. Elias tinha ordem de
despejo. Pois meu inquilino bateu o pé. Foi
assim que eu, que não queria nem passar na frente de um hospital para ter meu
filho, acabei indo um dia antes de completar 40 semanas, para
tomar ocitocina.
Continua...
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