Arrependimento

A vida é marcada, do começo ao fim, com grandes surpresas. Quando começamos a achar que aprendemos a viver, somos golpeados com certa angústia inesperada, ou com certo arrependimento por coisa que fizemos ou deixamos de fazer.

Qual seria a causa do arrependimento maior: não ter ou ter feito? O cético questionará – feito o quê? Não importa; há uma regra universal para a questão. Tudo isso gira em torno do livre arbítrio humano. O poder da escolha foi dado a certa raça imatura, que não sabe o que fazer dele. Ou o que não fazer. Se acreditamos que é errando que se aprende o que é errado e que a vida deve ser vivida através do critério « tentativa e erro », então, nada no mundo será mais doloroso do que não ter feito. Por outro lado, se acharmos que o metabolismo de uma vida é menos conturbado se, na esfera moral, tivermos menos o que digerir, então é melhor ficar quieto. O mais estático possível, para evitar erros. Mesmo se tratando de erros desejados e deliciosos, como um beijo aventureiro destinado a destruir a felicidade alheia. Entretanto, não se pode esquecer que há amigos que consolam e inimigos que atacam depois da decisão. Assim como antes dela. Os deleites compensam os desafios. Se mover é arriscar sem certeza. Mas ficar parado é ter certeza de que tudo que está ruim vai continuar asim. E o que está bom parece que vai acabando. Para quem não se move, as alegrias vão se esvaindo e as tristezas vão se condensando no fundo da alma. É preciso agitar a essência da vida, para poder ver as lamúrias e tratá-las. Tentar esquecê-las, nos momentos em qe achamos que conseguimos, não passa de um paliativo.

A dúvida jaz, exatamente, na parte mais frágil de uma vida. Ela, a incerteza, pode ser a ruína de um patrimônio emocional que levou meses para ser construído ou de um pequeno presente proibido, que carrega consigo um efêmero e vasto deleite, muito maior do que merecido.


2005, aula de redação. O professor dá o tema: « Ainda não estamos habituados com o mundo. Nascer é muito comprido. » Frase de Murilo Mendes. O texto que acabaram de ler é a resposta de Bernardo. Não sei se o professor entendeu todas as nuances. Eu entendi mais do que queria na época. Bom, ainda bem que imobilidade não combina em nada com a personalidade do meu marido.

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