Esther e seus 2 aninhos

Esther, ma petite. Oh, que je t'aime, minha carequinha descabelada! Você hoje completou 2 anos e não tem nem ideia do que isso seja. Não teve bolo, nem festa (ainda), mas teve a dose de alegria diária com muito carinho na cama de manhã, brincadeiras e risadas, no final um banho gostoso do jeito que você gosta e ida à escola. Você logo que viu a tia Téia na escola soltou minha mão e deu xau. Você estava tão feliz! Mas que peninha... apenas 30 minutos depois você teve que voltar pra casa por causa de uma febre. Percalços da vida. Nada que nos abale, filhota. Mas espero que você durma bem. Eu tô cansada e com sono então não sei qual vai ser o resultado desse retrato em letras. 
Filha, você mudou tanto nesse último ano. Você que indicava um gênio super forte e temperamento reservado se revelou uma menininha sorridente e expansiva nos últimos meses. Você ainda tem seus momentos de possessividade quanto a mim e alguns objetos, dá um grito forte e raivoso com a testa franzida quando tá chateada, mas bom... eu estava me preparando pro terrible twos, né? Pra mim essa fase está mais pra "marvelous twos". 
Você está se aperfeiçoando dia após dia na arte de dengar, fazer carinho, chamegar. Você ainda chupa dedo, aqueles dois dedinhos do meio, e fica alisando a barriga ou a orelha. It's really a thing to you. Você tem mesmo um nóia toda peculiar com carinho na orelha e na barriga. Uma das lembranças mais fortes (nem sempre positivas) que terei é de eu tentar lavar louça ou cozinhar com você embaixo amolegando (obrigada Nordeste por essa palavra!) minha barriga. Eu que sempre tive aflição de pessoas me cutucando, mudei isso também depois da maternidade. Essa foi especialmente pra você. Pode cutucar, filha, sou toda sua. 
Você é muito intensa, e seu humor pode variar drasticamente em pouco tempo. E a gente fica boiando sem entender, porque você não tá lá muuuuito interessada em falar. Na verdade tem períodos que tá, depois passa, volta. Agora você tá bem "falante", se comparando você com você mesma. Você continua amando livros e passa muitos minutos folheando o mesmo livro e fala, fala, fala, em tom de quem tá lendo, mas com poucas palavras inteligíveis. No seu vocabulário tem: mamãe, papai, EIII (Elias), oi, xau, esse, pé, mão, oio, bumbum, vovó, vovô, titia, Nana, abô (acabou), abua (água), pão, boi (bola e bolo), poi (pula), vem, dodói, dedo, dado, pato. E não, claro! Não é muito, mas você se expressa muito com o rosto, o tom, puxa a gente dizendo "vem" e aponta pro que quer dizendo "esse". Você tem um repertório facial vasto e eloquente. Engraçado seu jeitinho de olhar às vezes pelo canto do olho pras pessoas, ora brincando, ora desconfiada mesmo. 
Você brinca de fingir que tá chorando e depois começa a rir debochada. Sua alegria às vezes é gaiata. Uma zoeira, você. Você é também muito sensível e é fofo te ver chorando numa cena triste de um desenho, consolando Elias quando ele tá triste, ou mesmo pedindo desculpas do seu jeitinho. Acho lindo te ver crescendo em empatia. Você ainda gosta de brincar de esconde-esconde, bola, pega-pega, encaixar, empilhar, lego, carrinho, colocar objetos (da cozinha de preferência) um do lado do outro, dados, ímãs, colocar as miniaturas em pé enfileiradas, colocar e tirar coisas de um pote. Seu desenho preferido é o da patrulha canina. Você ama mesmo cachorros. Lembro da época em que você mais latia do que falava. Você gosta de ordem e a meu ver é bem perfeccionista. Você gosta de fechar a porta se abriu, colocar os sapatos no lugar certo, colocar o copo na pia, o lixo na lixeira, a roupa suja no cesto. Até sua dancinha é calculada: você põe os dedinhos pra cima e fica olhando pra eles pra garantir que farão o movimento corretamente. Ama banho e quando faz cocô me puxa pela mão pra ir se lavar. Você já quer escolher a própria roupa. Você também compôs uma musiquinha que sempre repete se a gente pedir. É a mesma já há meses. Você é calma, cautelosa, concentrada, observadora, exploradora. Gosta de curtir as sensações táteis, gosta de pintar o corpo todo com tinta, gosta de pegar cobertor e travesseiros pra se aninhar. Você é mesmo uma dengosinha! 
Você ama passear, ir ao parque, já acorda me puxando pra fora do quarto, logo depois pra fora de casa. Acorda também chamando o papai, que em geral tá na faculdade. Esse ano você, que era um grude gigante em mim, passou a curtir mais o papai, passou a brincar mais tempo com Elias e como é linda a amizade de vocês. Ele cuida bem de você, você o admira tanto. Esse ano também você começou a ir pra escola e desde o primeiro dia ficou muito bem, todas as professoras elogiaram sua rápida adaptação. Há quase 2 meses decidi te desmamar. Na primeira noite você parecia estar com ódio do universo, gritava, chutava, não dormi. Mas logo no dia seguinte dormiu bem, acordou uma vez pedindo "mama" e quando eu disse que tinha acabado você mesma pediu "ábua", mexeu na minha barriga e dormiu. E você não chorou mais. Desculpa, filha, me senti um pouco culpada, mas eu estava cansada. E o benefício de poder dormir a noite toda, com às vezes uma acordada rápida ou duas apenas mudou minha vida. Voltei a sonhar, literalmente! 
Além disso, você come muito bem. De tudo e muito! Muita fruta, verdura, carnes, frango, peixe, molhos, pão, biscoito. E na primeira vez no restaurante japonês deixou muito adulto no chinelo na comilança de salmão. Sorte que raras vezes compramos junk food, porque você é do tipo que come de tudo. E é louca por chocolate!
Filha, teu riso é de um colorido de tons vibrantes. Ele veio acrescentar uns acordes dissonantes na nossa vida. Tudo ficou mais intenso. Desafiador também, não posso negar, mas mais alegre e com muito carinho jorrando por todos os lados. Nós te amamos. E você ama tanto a gente. E demonstra isso de um jeitinho muito perfeito. Eu adoro estar com você, brincar com você é divertido e uma das minhas grandes ambições na vida é ser sua amiga, compartilhar momentos especiais com você ao longo da vida. Sabe, filha, a nossa sociedade adora tentar empurrar goela abaixo que mulheres não são amigas leais entre si, que meninos preferem as mães e meninas preferem os pais. Eles dizem que tem disputa e ciúmes entre as mulheres. Deixa eu te dizer: não precisa ser assim. Não temos essa predisposição genética. Tá na cultura de muitas casas, eu sei. Mas na nossa, a gente decide. Você pode continuar me enchendo de abraços e beijinhos sempre que quiser enquanto quiser. Eu vou seguindo te educando pra ser um ser humano empático com as pessoas e curioso sobre o universo, com as mesmas aspirações que tenho pro seu irmão. Muitas pessoas me perguntam qual a diferença entre ter uma filha e um filho. Por enquanto, eu sinceramente só vejo a diferença na hora de trocar fralda.  Eu só quero que a nossa cultura machista não te tolha demais, filha. Je te veux libre et épanouie. Curta a bicicleta que te demos de presente! 

     

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