5 anos de Elias

Oi, Elias.


Estou atrasada pro teu retrato em letras anual. Estamos na madrugada do dia 28 de outubro, às vésperas de uma eleição presidencial conturbada e encontrei um tempinho pra me refugiar no mar de amor que tua lembrança traz. Não tive tempo de escrever antes porque além da grande carga habitual de afazeres, esse mês de outubro foi cheio de visitas, festa, almoços de família. Foi animado, foi lindo e uma boa parte disso foi especialmente pra você e graças a você.

Como sempre, a ansiedade pra ficar mais velho foi grande e fizemos juntos um calendário maior que o do ano passado. No dia, tia Cássia e tia Fá, que vieram diretamente de Recife pra esse grande evento, prepararam uma linda festa pra você com o tema Minecraft. Você estava super feliz, mas curiosamente não quis saber de ninguém durante a festa, todo concentrado com o carro transformers dado pela tia da escola preferida. Por ironia, você acabou demonstrando um comportamento um pouco mais birrento logo depois do seu aniversário, acho que exageramos na pressão do “agora você é grande” além de toda a atenção e mimo que você recebeu na semana do dia 10.

Você está muito mais complexo e te descrever não tá fácil. Dá pra perceber claramente que você está mudando. Perdeu até a cara de menininho com o novo corte cabelo escolhido por você "igual ao do papai". Às vezes parece mesmo que já está na adolescência. Seu comportamento e humor tem variado bastante. Tem dias em que você vai chorar berrando irritantemente como uma criança de 2 anos porque eu não dei mais biscoito de manhã e à tarde vai me dizer durante uma bronca “mãe, por que você está sendo agressiva comigo? Não gosto quando você fala com violência comigo”.

Suas marcas registradas ainda são sua sociabilidade e aptitude em comunicar, embora às vezes você decida ficar tímido. Hoje chegamos os 4 numa festa e ouvi várias vozes adultas dizendo “Elias chegou!”. Você segue muito carinhoso, gentil e amável, embora bem mais independente e tenha inclusive desenvolvido gosto por estar sozinho. Isso me faz lembrar que você pediu um quarto só seu! Depois de mais de 4 anos de ninhozão familiar (não planejado, mas adotado com naturalidade e prazer), você começou a insistir na ideia de ter um quarto só pra você. Lembro do seu abraço emocionado, olhinhos fechados num abraço dizendo “muito obrigado, mãe” diante de uma cama, uma estante com brinquedos e uma mesa só pra você. E preciso mencionar algumas noites em que você ficou na sala sozinho brincando, enquanto seu pai dormia com Esther no nosso quarto e eu dava aula, e você pegou lanche no armário sozinho, guardou o que usou e depois foi dormir. Claro que tem noites em que você pede pra um de nós dormir com você, em outras, você que dorme no nosso quarto. Mas pro moleque que detestava dormir até os 3 anos, você amadureceu muito. Você entende seu sono e agora gosta de dormir. Uma leveza a mais na minha vida.

Ainda em torno dos assuntos maturidade emocional e amabilidade… Presenciei uma das conversas mais lindas há poucas semanas. A coordenadora da escola perguntou pra Elias:

- Qual seu melhor amigo aqui na escola?

- Todo mundo é meu amigo. Eu brinco com todo mundo. Eu gosto de pessoas.

Quase choro! Esse “eu gosto de pessoas” tem sido seu slogan ultimamente. E você ama mesmo as pessoas e as cativa.

Você anda ansioso pelo casamento do Lucas e da Nana. E até já falou que quando for adulto também vai querer casar e já até tem a eleita. Inclusive numa festa da escola uma mãe veio até mim e disse “ah você que é a mãe do Elias! A minha filha disse que ele é o namorado dela”. Pois pra mim ele tinha dito que tinha combinado com ela de que casariam quando fossem adultos. E olhe que sou super atenta pra evitar adultização das relações entre as crianças. Eu realmente não vi chegar.

Você aprendeu mais sobre o funcionamento do corpo humano, sobre as relações familiares, a ler sílabas, a contar até 30, a calcular rapidamente de cabeça somas com parcelas de 0 a 5. Há alguns meses você estava na vibe de perguntar quem tinha feito cada coisa. Quem fez o céu? Quem fez o computador? Etc etc. Depois vieram algumas perguntas sobre Deus, morte, de onde vem os bebês. Tudo isso associado ao questionamento “Como você sabe isso”? Algumas vezes ele se exclamava “uau, você sabe tudo”, mas logo depois perguntava “como os adultos sabem de tudo?”. A pergunta que não sai da sua cabeça ultimamente é: “qual é o último número?”. Preciso de uma formação em filosofia, biologia, matemática, teologia, porque você tá pegando pesado!

Você passou um tempo me fazendo perguntas sobre minha mãe (falecida). Parecia não acreditar que era possível alguém “sem” mãe. Mas certo dia você concluiu: “mãe, já que sua mãe morreu, você agora pode fazer o que quiser sem pedir pra ela, né?”

Você continua um irmão brincalhão, prestativo, que ensina o que sabe e mesmo diante da brincadeira indelicada de Esther (puxar cabelo, bater na cabeça, pular em cima da barriga, enfiar dedo no olho) você responde com condescendência. Mas às vezes um grito chateado sai. E até fico aliviada por você ser humano!

O gosto pelas regras e leis virou reclamação e contestação: “quem inventou essa regra?”, “por que tem que ser assim?”, “que regra chata!” e até um grito de “que droga!” ouvi recentemente. Mas também tem a procura por soluções. Muitas vezes diante de um “não”, você propõe uma solução muito plausível pra obter o que quer.

Esse ano você foi a Recife de novo comigo e Esther. Você foi num parque aquático pela primeira vez e superou novamente seu medo de piscina. Você fez trilha. Foi ao cinema pela primeira vez. Você está cada vez melhor no basquete, frisbee, esconde-esconde, LEGO, Minecraft, pintura. Seus desenhos preferidos são: Paw Patrol, Cars, Big Hero 6. Você continua muito musical. Eu amo te ouvir cantar, te ver dançar, você sabe mesmo sentir música. E continua cheio de curiosidades e vontades. O mais novo desejo profundo é de ir acampar, subir uma montanha, montar a barraca, fazer uma fogueira. Você tem tudo bem claro na sua cabeça. E contamos realizar esse desejo muito em breve!

Você tem uma auto-estima invejável. Lembro de um dia, após ter decorado a senha de 3 dígitos do cadeado da caixa de ferramentas, você constatou que a pilha do cachorrinho de brinquedo de Esther estava fraca. Disse cheio de segurança “vou trocar essa bateria”. Foi na caixa, abriu o cadeado, pegou uma chave de fenda, abriu a parte onde ficam as pilhas, trocou as pilhas (colocando na posição certa), fechou, ligou. Quando o cachorrinho funcionou um sorriso de triunfo se desenhou nos seus lábios e você disse “eu tenho que ser engenheiro”!

Agora, filho, tenho que te falar, meu!, você deu muito trabalho pra tomar banho durante meses nesse último ano. Agora melhorou, mas ainda tá bem cansativo. Você até entra no banho, mas brinca de tudo, molha o banheiro todo e sai seco se nós não estivermos no pé: “menino, lava a cabeça! se ensaboa!”. Mas bom, você aprendeu a lavar a cabeça no chuveiro sozinho. Quem te conhece bem sabe do progresso que isso significa.

Quanto a comida… dá até preguiça de falar de tanto trabalho que você deu e dá pra se alimentar. Você decidiu que não gosta de coisas que você adorava. Mas segue amando feijão com arroz, tomate, ovo cozido, “banana-amassada-com-leite-em-pó-e-chocolate”, espaguete, bolo, rosquinha, bolachas, chocolate, banana, uva, manga, morango, melão. Poderia ser pior. Pelo menos você não sabe nem o que é refrigerante, e só esse mês descobriu a Nutela. Atingimos a pior fase no início desse mês, cheio de visitas e olhar menos atento meu. Agora está melhorando.

Você está fazendo testes e tentando entender o conceito de mentira. Eita jeito bonito de dizer que te peguei na mentira várias vezes durante um certo período! E pior que mentia bem. Depois começou a acusar a gente de mentira algumas vezes. Certa vez o argumento é de que “a história era estranha”, mas era só o pai explicando um certo conceito de programação que nem eu entendi. E hoje tudo o que você conta envolve algum argumento do tipo “é verdade” ou um certo amigo da escola sempre mente. Vamos trabalhando isso. Acredito que esteja entendendo.

Ai, filho, é tanta coisa. Tanta anedota que eu não quero esquecer. Tanto amor pra dizer, redizer, reformular, registrar.

Acho linda tua vontade em fazer o bem, o certo. Vejo tua luta e teu esforço, e me comove teu arrependimento quando sabe que fez algo "feio". Teu objetivo é ser nota mil. Filho, você não é perfeito, nem precisa ser. Pra mim você vai ser sempre nota ∞. Você sabe que eu te amo? E você responde com muita segurança e auto-estima: “eu sei que você me ama, me ama, me ama.”




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