Relato de parto - parte I - A espera

Quase 9 horas da manhã e a casa dorme, mas não por muito tempo. Esther faz uns sonzinhos gostosos do meu lado. Começo esse relato de parto com a certeza de que terei que terminar em outro momento e sem saber quando esse momento chegará. E isso me trava. Não sei por onde começar.
A data prevista pro parto de Esther era 16 de novembro. No dia 9 tive as primeiras contrações de treinamento (a barriga fica bem rígida, mas não se sente dor). Depois não tive mais nada até a noite do dia 16, quando comecei a sentir cólicas irregulares e fracas. Fui dormir achando que seria no dia seguinte, mas… acordei sem sentir mais nada além de frustração. Mas enchemos a piscina cheios de expectativa. Às 10h30 do dia 20 a bolsa estourou. Era uma domingo e eu quase tinha ido à igreja. Imagina que vexame. Uma das enfermeiras veio em casa me examinar. Estava tudo certinho. Líquido claro, Esther com os batimentos como deviam, cabeça encaixada. Passei o dia com cólicas. À noite, dormi entre contrações dolorosas e às 4 horas da manhã do dia 21 levantei e comecei a contar as contrações: duração de 40 segundos com intervalos de um pouco mais de 5 minutos. Fui dormir às 5 da manhã e acordei sem nenhum indicativo de trabalho de parto. Apesar de tudo, eu estava muito tranquila e muito otimista. Eu tinha a impressão de que nada poderia dar errado. Ainda de manhã a enfermeira veio de novo em casa me examinar e conversar. Ela me fez ler uns artigos, assinar uns papéis pra indicar que eu estava ciente. Eram artigos que falavam sobre o perigo da bolsa rota. Fiquei muito tensa. Chorei. Depois ficava sempre analisando a cor do líquido que ia saindo aos poucos. E contando o tempo, pois 48 horas nessa situação tinha sido meio que a dead line que as enfermeiras tinham me dado. Fiquei com raiva de mim. Questionava se eu não conseguia parir. Não tinha como não pensar em Elias, que com 40 semanas também não tinha dado nenhum sinal de querer nascer. Eu já estava com 40 semanas e 5 dias. As pessoas próximas também questionando o tempo, a demora, a tal bolsa rota da qual ninguém tinha ouvido falar. Elias tinha ido passar o dia na casa de Claude e dormiria por lá pra gente tentar relaxar mais. Lembro de ficar andando no quintal de casa em círculos, Pedro parado na sombra me vigiando, escolhendo bem as palavras. Eu estava uma pilha. Dizia “eu sou do tipo que morria no parto antigamente” e outras coisas negativas. Até que resolvemos comprar os ingredientes pra um shake que as enfermeiras tinham indicado. A receita tinha uma lista quilométrica de ingredientes, mas o principal era um tal óleo de rícino. Li um pouco sobre ele e não estava nada convencida. Mas Pedro me convenceu a ir comprar pra me distrair. Uma das primeiras coisas que se acha sobre esse óleo é:

Indicado para pessoas que tem problemas com o crescimento do cabelo, ou que possuem cabelos muito danificados e precisam ser restaurados. Também é muito bom para combater a caspa.

Ele ainda é bom pra pele, e pra “todos os males do planeta”. E eu não estava nem um pouco a fim de tomar isso, ou um chá não sei de que. Sou muito desconfiada com essas coisas. Eu preciso de dados, de indicação científica.
De tarde Michele, a doula, me escreveu perguntando se eu queria que ela viesse. Respondi que sim e em 5 minutos ela tava na porta. Conversamos muito. Ela me fez rir bastante. E conseguiu me descontrair e relaxar com as histórias de parto que ela já tinha acompanhado. Inclusive me relaxando sobre a bolsa rota. Ela deu uma explicação sobre o óleo que me convenceu a tomá-lo. Ela explicou que ele atua como um laxante quando ingerido e que os movimentos peristálticos poderiam desencadear as contrações. Ela ainda tava aqui quando Pedro fez um shake muito louco com acerola, castanha do pará, óleo de “rícino-resolve-todos-os-problemas” e sei lá mais o que. Tomei entre muitas risadas. Mas com muito receio da diarréia que aquilo poderia me dar. Mas bom, eu não tinha mais muito a perder. Eu precisava entrar em trabalho de parto até as 10 horas do dia seguinte, senão… Eu não podia nem pensar na segunda opção sem cair no choro.
Para os desavisados que estão lendo esse relato de parto: nós planejamos um parto domiciliar, assistido por duas enfermeiras obstetras (Karim e Andreia) e com o apoio de uma doula (Michele). Eu sempre tive muito medo de violência obstétrica, tão comum nos hospitais no Brasil. E também não queria correr o risco de fazer uma cesárea eletiva simplesmente pelo primeiro parto ter sido cesárea. Pra quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto sugiro o filme “O renascimento do parto”.  
A noite foi chegando e nada. Mas os ânimos estavam melhores. Eu e Pedro ainda lá fora caminhando e conversando mais positivamente, admirando Vênus, que estava gigante, brilhante. Como eu quis que Esther nascesse naquele dia! A noite caiu. Às 20h30 o óleo resolveu fazer efeito e a dor de barriga foi muito grande, assim como a diarréia e logo em seguida as contrações. Eu não tinha coragem de sair da privada. Eu só pensava “vou zoar muito Esther dizendo que ela nasceu de uma diarréia” e ria. Sim, eu ria! Eu tava com contrações enfim! Em pouquíssimo tempo a dor se amplificou demais. Em meia hora eu já tava embaixo do chuveiro, vocalizando, dizendo “eu quero a minha doula”. Às 21h30 as contrações estavam de 30 segundos a cada 1,5 minuto. Era muuita dor. Andréia chegou às 22h: 7 cm de dilatação!! Logo em seguida Michele chegou e depois Karim.

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