"Jovem, aproveite a sua mocidade" Eclesiastes 11:9

Primavera. Mamãe Árvore, após um longo inverno de gestação, deu enfim à luz as primeiras folhas da estação. Bem alimentadas com a seiva vinda de longe, bem iluminadas e aquecidas pelo fiel sol de abril, as folhinhas cresceram saudáveis e numerosas. Elas sorriam verdes e satisfeitas, cantando e dançando com seu melhor amigo, Vento. Mamãe Árvore, sempre hospitaleira, recebeu as primeiras visitas. Uma delas, um certo Pássaro, de plumas negras e amarelas, se instalou definitivamente e fez de Árvore seu ninho. As folhinhas ficaram todas entusiasmadas com aquele ser. Belo, imponente, independente e

- livre... Mamãe, eu queria ser como Pássaro! - disse Folha, a primogênita.
- Por que, filha ?
- Eu queria voar. Ir pra longe, conhecer novas terras.
- Sinto muito, mas isso é impossível pra você.
- Quer dizer que eu estou fadada a passar a minha vida inteira presa a você? Isso não é justo!

Mamãe Árvore, vislumbrando o momento em que suas filhas, uma a uma, partiriam, calou-se. O silêncio pesado, de quem sofre calado.
Folha, durante a adolescência, no auge da rebeldia, aliou-se com algumas de suas irmãs numa tentativa de fuga em massa. Esperaram um momento em que Galho estava distraído, seguraram o fôlego, contaram até três e se prepararam para saltar todas juntas. O abismo diante delas, o desconhecido. Mas nada aconteceu. Elas se esticaram o máximo que puderam, mas impossível escapar de Galho.
O outono chegou. Folha amadureceu, ganhou cores cor de fogo. As brincadeiras com Vento ficaram mais intensas. E às vezes ela tinha até a impressão de voar. Certo dia Folha viu uma de suas amigas partir voando, colorida, dançando com Vento. Ela decidiu tentar saltar novamente, sozinha. Sentia que dessa vez algo estava diferente, que Galho não a prendia mais como antes. Fechou os olhos. Abriu os porinhos. E em alguns instantes ela estava girando e girando no ar. Abriu os olhos e se viu lado a lado com Pássaro, as asas abertas. Voavam. Folha não cabia em si de tanta alegria.
Horas depois ela foi perdendo altitude. O chão cada vez mais perto. Estava sozinha agora. Deitou. Estava perdendo as forças. Entendeu que estava morrendo. Ela estava feliz.
Folha não foi Pássaro, mas seu sonho fertilizou a terra.

Comentários

Selmy Menezes disse…
Lindo Lindo Lindoooo...sem palavras.

nos somos as folhas que sempre estaremos ligadas a realidade de que não voaremos, e se voarmos, ainda assim não seremos pássaros, seremos folhas que voam, felizes porém com o fim próximo.

Ceci, existe uma sintonia entre nossos textos que está ultrapassando o mar entre o Brasil e a França. ^^

Um beijo moça
Cecília Sousa disse…
Bom que gostou, Sel. Resposta lá no "Carpe Diem e Hakuna Matata"
http://farofa-roxa.blogspot.com/

Beijo!
Valéria disse…
Me emocionei bastante lendo este texto.Principalmente a parte que mamãe árvore sabia o que aconteceria com todas suas "filhinhas folhinhas".
Cecília Sousa disse…
Falou a mãe de 5 folhinhas, né?! :)
Foi graças à sua insistência, Valéria, que retomei o blog e o picasa. Obrigada. Me faz um bem enorme e eu tinha esquecido!
Beijos!
Thierry disse…
Wow Cecília! Telement joli!! Foi delicadamente escrito como um conto de fadas e é profundamente cheio de significado. Me tocou bastante. Obrigado!
Cecília Sousa disse…
X) Je suis contente de ton commentaire et tes exclamations, Thierry :)
J'aime arriver à toucher les gens par les mots.
Merci pour tes mots d'encouragements. D'ailleurs, on devrait un jour discuter sur skype tous les trois :)

Bises fraternelles.
selmak disse…
Ceci, seu texto faz a gente refletir.Amei.Muita ternura e beleza na sua visão. Bj

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