"As pessoas em São Paulo são frias"

Ouvi muito isso antes de vir. Ouvi também variantes ao chegar. Pessoas daqui mesmo me diziam que eu estranharia a indiferença das pessoas. Mas vim tranquila. Depois de três anos na França, São Paulo seria fichinha! E que agradável surpresa ao perceber que não era bem assim...
Desde que chegamos aqui, encontramos muita gente simpática, sorridente e solícita. No parquinho, no shopping, na fila do supermercado... às vezes até parece um universo paralelo de filme de ficção. Todos tão sorridentes e felizes! Mesmo os funcionários públicos. Fui no Poupatempo, o equivalente do Expresso Cidadão em Recife, pra retirar os RGs meu (finalmente com nome de casada!) e de Elias. Como sou uma pessoa organizada, coloquei tudo dentro da mesma pasta: protocolo de pedido, RG antigo, certidão de nascimento de Elias. Mas... como sou esquecida, deixei tudo em casa. Mesmo assim tive a cara de pau de ver se dava pra retirar. A moça pediu os documentos um a um e diante das negativas, pediu meu nome completo (ufa, uma informação que eu tinha enfim!) e disse que veria o que poderia fazer. Eu já estava resignada em ter que voltar outro dia. Eu estava só esperando ela me lançar um olhar preguiçoso e dizer: "não posso fazer nada". Mas não, muito simpática, ela levantou da sua cadeira e voltou com os RGs. Agradeci, talvez exageradamente, quase emocionada.
Outro dia, nos Correios, a moça que nos atendeu bateu o maior papo com a gente. Conversamos sobre onde moramos, sobre Jundiaí e no fim ainda nos indicou um self-service muito bom pra almoçarmos. Nesse mesmo self-service, assim que sentei na cadeira com Elias no colo, o proprietário veio me oferecer uma cadeirinha pra crianças. Certa vez, no supermercado, a mulher que estava na minha frente começou a dar sinais de que queria conversar. Sabe quando a pessoa começa a fazer uns comentários, umas reclamações sem direcionar pra ninguém mas num volume audível? Super normal na minha terra. Em ônibus e supermercados especialmente. Você pode ignorar ou responder e possivelmente iniciar um papo amigável. Em geral, respondo e gosto de jogar conversa fora, estabelecer alguma conexão inocente e passageira. Mas tinham me dito justamente que esse era o tipo de coisa que não aconteceria por aqui... Então, dei uma ignorada de leve na mulher. Mas ela insistiu. Olhou pra mim. Até sorriu. No início respondi monossilabicamente. Até que me rendi e no final fiquei sabendo que ela nasceu em Jundiaí e que gosta da cidade. Além da conversa puramente fática sobre a demora do caixa, claro.
Eu poderia continuar a lista de pessoas solícitas que atravessaram nosso caminho: o rapaz que vendeu a geladeira, o rapaz que veio instalar a internet, as mães no parquinho, os irmãos de algumas das igrejas que visitamos, as pessoas que se derretem com Elias por onde ele passa, etc etc. Mas vou concluir contando o que aconteceu sábado passado. Eu estava no parquinho do prédio com Elias e uma mulher começou a conversar assim que cheguei. Conversamos bastante sobre nós, profissões, origens, família, etc. No final da tarde, estávamos eu, Bernardo e Elias tomando um cafezinho na casa dela, comendo pão de queijo com seus filhos (da nossa idade) e suas sobrinhas (que viram em Elias o boneco perfeito). Assim adicionei as primeiras pessoas de Jundiaí no Facebook. Um marco!
Talvez as pessoas sejam mais simpáticas por aqui do que na cidade de São Paulo. Talvez as pessoas sejam mais simpáticas conosco graças a Elias. Talvez nós estejamos vendo a vida cor-de-rosa. Não sei dizer a razão. Sei o que tenho visto. Essa é minha experiência pessoal e intransferível. O fato é que esse é mais um estereótipo quebrado pra mim. 

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