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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

Pra encerrar a série de redações nada parciais de 2005

Tema: « Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com um país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... » A Peste Se planejar fosse o bastante, a felicidade seria uma doença epidêmica, incontrolável e, já há muito tempo, moléstia incurável e fatal de cada cidadão da Terra. Padeceríamos todos da idéia absurda de que não há problema algum no mundo. Primeiro, o infectado faria planos mirabolantes para solver cada dor de cabeça, cada calo, cada beijo não dado, sem fazer nada. Iria pensar no analgésico, em tirar o sapato apertado, em agarrar a moça, mas não moveria um dedo sequer. Ficaria a supor como seria bom ver-se livre dos males. E a conjetura, certa hora, ser-lhe-ia suficiente. Nesse segundo estágio da doença, ele passa a deleitar-se com suas soluções, umas óbvias, como tirar o sapato, outras hipotéticas, como agarrar a moça. Apesar de continuar com o calo doendo e sem o beijo, ele se sente feliz. Suas soluções lhe proporcionam toda a satisfação de que

Ainda na aula de redação...

Tema: « Navegar é preciso; viver não é preciso. » (Fernando Pessoa) Universos Paralelos e Hipotéticos Derivados do Arrependimento Encaramos decisões, desde as mais prosaicas até os mais truncados dilemas. Essa rotina pode significar a existência de milhares de realidades paralelas à nossa, mesmo que imaginárias, onde as coisas são diferentes devido a decisões diferentes. Quanto maior o arrependimento por certa escolha, mais bem definido fica o universo que se cria ao se supor como teria sido se o caminho tomado tivesse sido outro. Não sabemos o que é certo. E, no meio da nossa ignorância, somos forçados pelo destino a decidir. Mesmo quando acertamos, ficamos a pensar se, realmente, acertamos. Não há como ver a realidade paralela derivada daquela escolha. Como saber, então? Contentamo-nos em supor que seria maior ainda a tristeza. Com o passar dos anos, os erros são esquecios. Por mais amargo que seja o gosto de uma escolha errada, ele passa. Esquecer é, portanto, uma dádiva

Arrependimento

A vida é marcada, do começo ao fim, com grandes surpresas. Quando começamos a achar que aprendemos a viver, somos golpeados com certa angústia inesperada, ou com certo arrependimento por coisa que fizemos ou deixamos de fazer. Qual seria a causa do arrependimento maior: não ter ou ter feito? O cético questionará – feito o quê? Não importa; há uma regra universal para a questão. Tudo isso gira em torno do livre arbítrio humano. O poder da escolha foi dado a certa raça imatura, que não sabe o que fazer dele. Ou o que não fazer. Se acreditamos que é errando que se aprende o que é errado e que a vida deve ser vivida através do critério « tentativa e erro », então, nada no mundo será mais doloroso do que não ter feito. Por outro lado, se acharmos que o metabolismo de uma vida é menos conturbado se, na esfera moral, tivermos menos o que digerir, então é melhor ficar quieto. O mais estático possível, para evitar erros. Mesmo se tratando de erros desejados e deliciosos, como um beijo aventur

Brincadeira?

Após reler alguns dos nossos textos à procura de algo pra publicar sábado, reencontrei esse conto que tanto marcou nossa história. O autor é Tchékhov, escritor russo do século XIX. E quem me apresentou essas linhas foi Pedro. Na época estávamos vivendo uma amizade densa, que trazia consigo a semente da paixão na qual mergulharíamos poucos meses depois. Pedro já tinha entendido a situação antes de mim, o interesse nasceu primeiro nele, é verdade. Certa noite, no cursinho, ele me apresenta o papel, escrito a mão. Leio. Não sei se entendo. Através esse conto, Pedro susurrou no meu ouvido, como o narrador fez com Nádia. E como a garota, eu não sabia se vinha do vento ou do amigo a tal voz. A voz de Pedro não me dizia "eu te amo" na época. Ele sempre foi prudente com essa frase; aprendeu com o pai, Jether. Era algo como "posso te amar". Quando eu leio a reação de Nádia, eu me vejo naqueles dias singulares de cursinho, de cartas, filosofia, chocolate e enigmas. E como a

O Mal e o Bem

Eu sabia que Yahoo era do mal! http://www.estadao.com.br/especiais/a-fusao-microsoftyahoo,12115.htm :P

Brincadeira

Um claro dia de inverno... O frio é forte e seco de estalar, e Nádenka, que eu levo pelo braço, fica com os cachos das fontes e o buço no lábio superior orvalhados de prata cintilante. Estamos no cume de um morro alto. Diante dos nossos pés, até a planície, lá embaixo, estende-se um declive escorregadio e brilhante na qual o sol se mira como um espelho. Ao nosso lado está um trenó pequenino, forrado de pano vermelho-vivo. - Deslizemos até embaixo, Nadêjda Petrovna! - imploro eu. - Só uma vez! Garanto-lhe, ficaremos sãos e salvos! Mas Nádenka tem medo. Toda essa extensão, desde as suas pequeninas galochas até o fim da montanha de gelo, se lhe afigura como um terrível abismo de profundidade imensurável. Ela fica tonta e perde o fôlego. Só de olhar lá para baixo, quando eu apenas lhe proponho sentar-se no trenó - que terá então se ela arriscar despenhar-se no precipício? Ela morrerá, enlouquecerá! - Eu lhe suplico! - digo eu. – Não tenha medo! Compreenda, isso é fraqueza, é covardia! Náde

Falando em Literatura

É bem verdade que o nosso blog anda meio parado. A vida na França não é mais novidade, a faculdade nos ocupa bastante e a vida social na igreja preenche horas e horas de lazer. O que não é nada ruim. Pena é ver esse blog envelhecer. Flores precisam ser regadas constantemente e livros não lidos acumulam poeira. É preciso dar material novo em consideração aos nossos leitores fiéis e às mães no Brasil ávidas por notícias. Ainda mais agora que minha querida sogra está com internet em casa. Eu não quero condená-la a ler e reler história antiga e conhecida. Por isso, resolvemos publicar antigos textos nossos, desconhecidos. Vocês encontrararão contos de ficção, crônicas, poesia, trechos de cartas que trocamos durante nosso namoro, algo que lemos e gostamos, mesmo análise de textos pra faculdade. E com frequência! Esperamos que gostem. Boa leitura.

Literatura e Internet

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Literatura com L maiúsculo e Internet com I maiúsculo. Os dois conceitos pedem reflexão e respeito apenas pelo status das palavras que os representam. O que é literatura e o que não é literatura é assunto para um número impressionante de teses e dissertações de mestrado, desde muito tempo. E o que é Internet, bem, entre um artigo técnico no Wikipédia ou uma nuvenzinha nesse vídeo sobre o Google Chrome OS , ainda tem gente perdida que pensa que é só uma moda... Eu não estou escrevendo para refazer perguntas que estão sendo feitas há anos. Eu não estou escrevendo para definir conceitos difíceis. Na verdade, eu estou escrevendo para pessoas que já tem uma idéia definida desses dois elementos do meu título. Mesmo que vagamente definida. Pessoas que, em posse dessas duas idéias, Internet e Literatura, poderão fazer um esforço para colocar os preconceitos de lado, a Literatura na Internet, e o olhar no futuro. Como eu escrevo em um blog, muita gente vai pensar, nesse ponto da leitura, que e