It's a girl!

Segunda gravidez. Dessa vez, por já estar preparada, estava mais tolerante com os pequenos comentários que tanto tinham me chateado na gestação de Elias. Passei até a considerar alguns dos meus incômodos fruto de impaciência gratuita da minha parte. O que não quer dizer que não tenha havido outros, novos e intrínsecos à segunda gestação.
A maior questão é sem dúvida com relação ao sexo do bebê. Senti-me cansada e intrigada com a torcida praticamente unânime pra que fosse uma menina só porque eu já tinha um menino. Eu não consigo entender essa importância toda dada ao sexo da criança. Perturba-me pensar que o bebê ainda no ventre da mãe carrega em seus ombros um monte de expectativas da sociedade e que boa parte destas são ditadas por um simples cromossomo. A maior parte do tempo, eu simplesmente nem pensava no sexo que essa criança teria (embora não possa deixar de mencionar que na primeira gravidez eu morri de ansiedade pra ter essa informação). Nessas últimas semanas, porém, acabei adquirindo alguma preferência, não sem que ela oscilasse entre uma possibilidade e a outra.
Em certos momentos, no auge da rebeldia, preferia que fosse um menino só pra frustrar todo mundo, pra acabar com esse ideal almejado de família perfeita de propaganda de margarina. Acrescente à rebeldia uma boa dose de pachorra em ter que lidar com os estereótipos de gênero, de ganhar vestidinho rosa, de herdar as bonecas de alguém, de ter que ouvir os comentários inocentes e simpáticos ensopados em machismo tão velho que as rugas dificultam identificá-lo. Mas em outros momentos, eu achava que uma menina educada fora de padrões retrógrados e cerceadores seria meu maior ato de rebeldia. Daria mais trabalho, mas seria um protesto muito mais eficaz e útil. Digo isso sem desejar em nada diminuir o impacto na sociedade de uma educação menos machista para meninos também. Algo no qual tenho me empenhado com afinco há quase 3 anos.
Essas são as razões principais pelas quais nessa manhã recebi a notícia de que carrego uma menina no meu ventre com um misto de alegria (de mesma medida que teria se fosse um menino, por sinal) e preocupação. Enquanto mulher, eu sei das dificuldades de sê-lo na nossa sociedade. E sei da minha grande responsabilidade enquanto mãe de proteger essa criança e ao mesmo tempo prepará-la pra construir um lugar melhor. Responsabilidade que eu já sinto desde a concepção de Elias, mas que agora sinto com uma dose extra de medo. Eu prevejo um grande desafio, mas sinto-me abençoada com a chance de viver isso com Esther, principalmente tendo ao meu lado o marido que eu escolhi e o filho que estamos educando juntos.
Esther não é princesa. Por enquanto ela é “só” um bebê saudável e amado, cheio de tempo pra se construir.  

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