Caro Gerente

Quando um amigo explica os valores e prazeres da escrita à mão, o cheiro do papel, da tinta de caneta, as noções abstratas e comoventes da natureza concreta das cartas, como se o conteúdo fosse apenas um pretexto para colecionar páginas de papel, eu me esforço para entender. Quando um candidato a amigo faz esse tipo de coisa, eu rio, nem que seja só do lado de dentro, para respeitar e me divertir ao mesmo tempo. Mas quando o meu banco faz isso, eu fico enfurecido...

Baseado numa carta real:


CARO GERENTE
por Bernardo de SOUSA
com raiva




Eu, Pedro Bernardo de SOUSA, registrado no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) com o número 319.XXX.XXX-05, declaro para os devidos fins que não efetuei compra alguma nem saque algum no dia 30 de abril de 2012. Declaro igualmente que nunca estive em estabelecimento chamado "Capoteiro" em toda minha vida consciente.

Aproveito a ocasião para declarar que um estabelecimento de renome como o Banco do Brasil, em pleno ano 2012, deveria usar métodos modernos para comprovar a autenticidade de uma carta como a presente, visto que exigir sua escritura à mão não prova nada além da nostalgia inútil de um sistema retrógrado, além de criar um obstáculo à formalização de uma denúncia de prática criminosa, da qual eu fui vítima.

Na esperança de ver o atual problema resolvido e devidamente reparado, e na igual esperança de ver a segurança do sistema de compras por cartão de débito aperfeiçoada, eu afirmo meu respeito pelo Banco do Brasil, do qual sou acionista, apesar de tudo isso.

Cordialmente insatisfeito,


assinatura

Comentários

Cecília Sousa disse…
Que mau-humor mais inteligente! Ia escrever que estou com saudade do seu mau-humor, mas acho que isso poderia ser usado contra mim. Além do mais eu prefiro sua inteligência. Muito bom texto! Eu assino embaixo.
Pedro SOUSA disse…
Foi. Depois da carta, o banco não tardou a me restituir os R$ 550 reais roubados da minha conta. E depois disso, eu fechei minha conta.

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